terça-feira, 25 de setembro de 2012

As histórias se repetem...


Hoje gostaria de falar um pouquinho sobre a história da minha família e como ela têm influenciado a minha vida até aqui. Para mim, entender a história da minha família e aceita-la como ela é , está sendo um grande passo para a minha recuperação. Muito ouvi falar sobre isso e muito já li sobre isso, mas, quando olhei verdadeiramente para a minha família percebi que existia algo errado.
Neste post vou tentar relatar um pouco dessa história e o que tem haver com a minha situação atual.

Começando pela minha avó:
Sempre foi muito religiosa. Era professora e catequista. Teve muitos filhos com meu avô e sempre os defendia acima de tudo.
Meu avô era alcoolatra e sempre que chegava em casa bêbado partia para cima das crianças, procurando algum motivo para agredi-los. Uma vez deu uma facada em minha mãe, quando ela ainda era bebê e estava dormindo em seu berço. Minha mãe tem a marca da facada ainda hoje e nunca o perdoou por isso.
Minha avó não aceitava tamanha maldade que ele cometia contra seus próprios filhos e enfrentava-o, por isso, ele também a agredia. Ela aguentou isso até o fim da sua vida!

Minha mãe:
Saiu de casa quando ainda tinha 15 anos. Não aguentou mais a imposição do meu avô diante do lar. Ele tinha arrumado um marido para ela e ela não aceitava aquilo. Fugiu de casa e começou a viver a vida sozinha.
Minha mãe foi vítima de vários relacionamentos destrutivos. Relacionou-se com homens abusadores e inacessíveis assim como meu avô. Nunca foi agredida fisicamente, mas, emocionalmente foi muito abusada. Esses homens não a respeitavam, a traiam e humilhavam como se ela fosse apenas um objeto, sem valor algum.

Minhas irmãs:

C.
Casou quando tinha ainda 15 anos, teve dois filhos nesse relacionamento. Seu marido a traiu e foi embora com sua vizinha e melhor amiga. Depois ele se arrependeu e ela o aceitou de volta. Depois ele a traiu com outra mulher e mais uma vez foi embora, se arrependeu e ela o aceitou. Isso por inúmeras vezes. Hoje, eles estão separados, mas, acho que se ele pedir para voltar ela ainda o aceita.


E.
Engravidou aos 17 anos. Seu marido? Usuário de Cocaína. Ela resistiu a tudo e o aceitou, perdoou por todos os erros: noitadas regadas a drogas e traições. Juntos, tiveram dois filhos e permanecem juntos ainda hoje.  Ele conseguiu resistir ao vício, graças a um Deus bondoso e misericordioso. Mas, e as sequelas? Elas ficaram.
A filha deles é codependente e se casou com um homem alcoolatra, que não admite o seu vício e acha que não tem nada demais beber como ele bebe.
 

L.
Casou com um dependente químico. Com ele teve duas meninas. Resistiu ao casamento por 16 anos e hoje, como ela diz, graças a Deus está liberta. Foram muitas idas e vindas, muitas promessas de que tudo seria diferente, que ele realmente iria mudar. Em todas as vezes ela caiu do cavalo. Cansou de sofrer e resolveu se separar definitivamente. Hoje ela vive um relacionamento sereno, com alguém que a valoriza realmente. E mais uma vez as sequelas:
Sua filha namora um DQ também. Não consegue deixar dele e toda vez que termina o namoro ele a enche de mimos e promessas de amor eterno. Ela acredita e dá mais uma chance. Ela não é feliz, vejo isso em seus olhos. Uma menina tão linda e tão jovem com muitas oportunidades pela frente, se acabando por um relacionamento desses. Não consegue dar um basta e dizer não quando ele a procura.


Eu:
Comecei a namorar com 15 anos e com esse mesmo homem me casei. Perdoei erros imperdoáveis e acreditei em promessas infundadas. Tudo em nome de um “amor” que EU não queria abrir mão. Sentia-me uma só com ele e se estivesse longe era como se uma parte de mim estivesse faltando. Ou seja, codependência total desde o começo.

O que eu enxergo quando falo sobre a história da minha família?
Simplesmente que as histórias se repetiram e continuam a se repetir.

No mundo espiritual, chamamos isso de legalidade, ou seja, existe uma permissão aberta para que o inimigo ataque sempre nas mesmas áreas; e na ciência, chamamos isso de padrão, pois as histórias, atitudes e desfechos seguem sempre o mesmo padrão.
Seja legalidade ou padrão, isso fica bem claro na história da minha família e tenho certeza de que na de muitas outras também. O fato é que enquanto não chegar alguém e resolver quebrar logo isso, as futuras gerações continuarão sendo marcadas pelas mesmas histórias. E eu me sinto meio que na obrigação de quebrar esse ciclo vicioso, afinal, eu tive a oportunidade de entender isso muito mais cedo que as minhas irmãs. As marcas ficarão em mim, mas, percebo que se eu quebrar isso agora, não trarei as mesmas consequências para as minhas gerações.
Percebo que toda decisão gera uma consequência e eu devo escolher quais são os tipos de consequência que quero para os meus:

Posso permanecer como a minha irmã E. = Acreditando que um dia as coisas irão melhorar e perseverar insistentemente ao seu lado. Como meus filhos me verão? Como uma mulher que tudo sofre, tudo suporta, tudo espera pelo seu amor, ainda que esse amor seja destrutivo. Serei uma mulher maravilha por ter suportado tudo aquilo e consegui alcançar a graça de ver meu marido limpo. Qual será o exemplo que meus filhos vão querer seguir? O meu é claro!

Posso permanecer como a minha irmã L. = Acreditar nas promessas de que tudo irá mudar e continuar dando todas as chances possíveis, por medo de enfrentar o mundo sozinha, por medo de enfrentar a mim mesma. E, no final perceber assim como ela percebeu, que não valeu a pena! Hoje ela vive uma vida bem diferente e é amada de verdade. Pena que demorou para descobrir isso.

Posso ser diferente de todas e arriscar um futuro diferente para as minhas gerações = Assim como as minhas irmãs seguiram o exemplo de família, suas filhas também estão seguindo. Sinceramente! Não quero isso para os meus filhos. Quero que eles tenham uma nova perspectiva de vida e vejam que tudo tem limites, que cada um tem a sua individualidade e isso deve ser respeitado.

Não posso assegurar que meus filhos não serão codependentes, afinal eu sou uma, em recuperação graças a Deus!...rs...Mas, posso e tenho a obrigação de mostrar a eles, o outro lado da vida. Dizer a eles a parte que esqueceram de me  falar: Você pode sim existir sozinha! Não precisa de ninguém para te fazer feliz, afinal, a felicidade não está em outras pessoas.
O que acontece é que todos nós, de uma certa maneira, temos o medo do novo e por isso não ousamos arriscar em histórias sem precedentes. Preferimos continuar no que nos é comum e cômodo, ainda que isso signifique um relacionamento infeliz, preferimos tapar os nossos olhos e acreditar que um dia irá melhorar. Afinal, foi assim com toda a minha família. Todas persistiram e foram até a última gota. Será que comigo vai ser assim também? Será que eu já cheguei na minha última gota?
Enfim, essa é a história da minha família. Uma história que foi passando de geração em geração, desde a minha avó até as minhas sobrinhas. E agora, a bola tá comigo! E só eu tenho o poder de mudar a trajetória da minha vida!

Não posso mudar o meu passado, mas posso começar agora a construir um novo futuro.

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