terça-feira, 16 de outubro de 2012

Estranhos sentimentos

Terça-feira, 16 de outubro de 2012.

Meu marido continua insano e a minha cabeça está a mil por hora.
Já não sei mais o que fazer, mas, estou tentando o possível para manter a minha serenidade e entregá-lo nas mãos de Deus.
Peço tanto para que Deus cuide dele que as vezes esqueço que preciso que Deus também tem que cuidar de mim. Realmente essa é uma das muitas faces da codependência: amar mais ao próximo que a mim mesma. Estou lutando!

Bom, como já disse os pais do meu marido estão viajando e o deixaram sozinho em casa. Resultado: Ele está mais ainda sem limites.
Decidi que não vou mais esperar a hora que ele quiser se recuperar, ou ele entra em recuperação ou darei entrada nos papéis da separação de fato. Darei um prazo para isso.
Ontem ele me ligou para perguntar se estava tudo bem e se eu ainda estava brava com ele, pois havia usado durante todo o fim de semana. Falei que estava cansada, mas, que precisava falar com ele.
Ele disse que ia comprar sorvete e depois passava em casa.
Dois mintuos depois o telefone toca. Era o vizinho dizendo que ele não poderia ir pois havia caído de moto. Perguntei por ele e ele me disse que estava em casa na garagem.Peguei o carro e fui até lá.
Chegando lá tinham mais dois vizinhos com ele. A moto havia caído por cima dele e ele reclamava de dor nas costelas. Está muito magro, com uns 15 quilos a menos e a moto é grande, acho que ele não aguentou com o peso e deixou a moto escapar. Ele não quis ir ao hospital.
Que cena triste.
Na casa, parece que não mora ninguém; a garagem cheia de folhas, xixi e coco dos cachorros, bitas e maços de cigarro vazio. Um lixão.
Fui pra dentro com ele. Disse para eu não entrar pois estava fedendo, ele havia usado. Entrei mesmo assim e ele gritou: Está surda! Não dei ouvidos.
Peguei a chave da moto e pedi o documento. Ele não quis me entregar. Insisti por umas 5 vezes, ele não quis me dar e me mandou embora. Fiquei sentada no sofá me questionando como tudo aquilo poderia estar acontecendo. Aí ele me pediu a chave do carro dizendo que ia comprar o sorvete. Caiu a ficha e perguntei: Como você vai comprar sorvete se você não tem dinheiro? Ele disse que passou umas pedras para um cara que usa, porque ele não iria mais usar, e tinha que buscar o dinheiro para comprar o sorvete. Me pediu a chave mais uma vez e disse que não iria dar, aí ele começou a gritar comigo. Vi as suas mãos trêmulas.
Falei para ele que eu iria junto, fui dirigindo. Chegamos na biqueira, o pior lugar possível para se drogar, ali só ficam os mais loucos, os mais nóias. Um sentimento de impotência e arrependimento invadiu meu coração. Impotência porque eu nada poderia fazer por ele e arrependimento porque eu não poderia ter feito aquilo COMIGO.
Ele chamou o cara no portão, e o mesmo mandou ele entrar; como estava mancando disse que iria esperar ali fora mesmo porque estava com a perna machucada. Passou um tempo ele entrou e ficou uns 10 minutos lá dentro. De repente saiu com um carinha e foi descendo a rua. Não achei seguro ficar ali sozinha e saí com o carro, fui embora.
Depois de um tempo ele aparece na rua de casa, os olhares do vizinhos todos sobre ele, sei lá o que passa na cabeça deles.
Eu estava dentro do carro, esperando por ele, na frente de casa, quando ele começou a gritar comigo no meio da rua:
-Porque não me esperou c@#4*o, se parou em um lugar fica no mesmo lugar p...!!!!
Esperei ele entrar e continuei dentro do carro. Ia embora, mas resolvi descer. Cheguei lá dentro e perguntei: O que está acontecendo com você. Ele começou a resmungar e querer estar cheio da razão e ainda me disse: Você tem dar graças a Deus porque eu me desfiz dessas merdas . (EU TENHO QUE DAR GRAÇAS A DEUS?!), ele continuou resmungando. Dei tchau, virei as costas e vim embora. Ele me pediu desculpa pela grosseria. Fingi que não ouvi.
Cheguei em casa aos prantos. Não consegui me conter.
Liguei para o Pr. que me orienta quanto a isso. Sua esposa atendeu o telefone. Perguntei a ela se a clínica que eles indicam oferece internação involuntária, aí ela disse que não e perguntou o por quê? Expliquei toda a situação e disse que ele parece não ter mais nenhum momento de sanidade. Ela disse que existe sim, clínicas que fazem este tipo de internação, mas, que o valor da mensalidade é muito caro; em torno de R$ 2500,00. Não tenho essa grana. Pediu para que orássemos pedindo a Deus que toque no coração dele e que traga momentos de sanidade para a sua decisão quanto a recuperação. Pediu para que eu fosse mais firme com ele e só aceitasse conversar depois que ele aceitasse algum tipo de tratamento, pois, infelizmente essa é a única maneira que tenho para ajudá-lo, que iria doer, mas, que era uma dor precisa. Comentei com ela sobre as tendências suicidas e o meu medo de ser rude com ele. Ela me disse: Preciosa, ele comete o suicídio  a cada dia, quando continua usando essas drogas. Ele já está se matando. Tudo que podemos fazer nesse momento é nos entregar aos pés do Senhor e pedir.
Fiquei mais tranquila depois da conversa, mas, ainda sim não conseguia dormir. Ele já havia me ligado umas 2 vezes e eu não atendi. Estava muito cansada e não conseguia dormir, um turbilhão de coisas passava pela minha cabeça; aí então tomei um calmante para dormir, deixei o celular no silencioso, pois tinha certeza de que ele iria ligar durante a madrugada. Não poderia fazer aquilo comigo, eu precisava tentar descansar pra trabalhar no dia seguinte. Assim adormeci.
Quando acordei, ele realmente havia me ligado durante a madrugada, às 4 da manhã.Sem noção. Quando já tinha levantado ele voltou a ligar e eu não queria atender.
Cheguei no trabalho ainda estava meio grogue, parece que o efeito do remédio começou na hora errada...aff...Me sentia trocando as pernas, flutuando em um lugar distante...
 Adivinhem de quem foi a primeira ligação no meu trabalho?!haha...
Disse que estava me ligando para pedir desculpas. Aproveitei e disse a ele: Por favor, não me procure mais enquanto você não estiver em busca da sua verdadeira recuperação. Falar com você na adicção ativa não dá mesmo. Me machuca demais. Então resolve aí o que você quer e depois vem falar comigo. Ele ficou quieto e desligou o telefone.
Depois disso, fui conversar com o Pr. em seu escritório. Havia marcado um horário.
Ele me disse as mesmas coisas que sua esposa e pediu para que eu mantenha realmente uma postura firme diante dele. Vai doer, mas é o melhor. Ele não vai aprender enquanto tudo estiver fácil pra ele, principalmente comigo aceitando a situação e tratando ele como se nada estivesse acontecendo. Ele precisa perceber isso. Disse para que eu continue me cuidando e sendo feliz independente das escolhas dele. Não me orientou quanto a separação, pois ele sabe que é possível sim a restauração do meu esposo. Mas, que ele precisa entender a condição para a nossa reconciliação.
Me mostrou um vídeo de um rapaz que já está a quase 3 anos limpo. Ele também se afundou no crack e vendeu todas as coisas de dentro de casa. Sua esposa não aguentou e foi embora. Ele decidiu mudar de vida para reconquistar a esposa, procurou a ajuda do Pr., pegou firme nas terapias e depois de 6 meses, quando sentiu que já estava preparado pediu para a esposa voltar. No primeiro momento ela relutou, mas, depois aceitou a reconciliação, pois, ele realmente havia mudado. No depoimento ela diz que ele é o marido que ela pediu a Deus. Hoje eles vivem bem e já planejam a chegada de um herdeirinho.
É tão bom ouvir essas histórias de superação...SEi que cada caso é um caso e as escolhas também são diferentes, mas, fiquei feliz por ver que existe sim uma luz no fim do túnel.
Estou decidida a manter a minha firmeza com o meu marido. Que Deus me dê forças.
SPH quero acreditar que ele vai sim conseguir sair dessa e ter uma vida saudável. Independete de ser comigo ou não. Quero muito o seu bem e por isso continuarei orando para que ele encontre essa força que existe dentro dele...

9 comentários:

  1. Eita lindinha que sufoco! Nesse momento mesmo só queria te dar um abraço e dizer que tudo vai passar, e que realmente daqui ha algum tempo isso tudo vai parecer um pesadelo distante. Concordo plenamente com os aconselhamentos que vc recebeu, e realmente se afastar dele e cortar os vinculos é de extrema necessidade, principalmente a vc, onde ja se viu.. levar ele em biqueira pra buscar dinheiro pra sorvete? Nem se fosse teu filho vc deveria ter ido lá (*puxão de orelha)...rs Mas vai ficar td bem?? Vc queria que Deus conduzisse as situaçoes para que a mudança fossei iniciada, e desde o tombo da moto ele esta a concretizar isso, confie. Cuida de vc tá... e se precisar! ;)

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    1. É amiga, o afastamento é realmente o melhor que posso fazer nesse momento. Pode até arrancar a minha orelha se quiser, porque puxar é pouco...rsrs...Pisei na bola feio, mas, agora não adianta mais né, já tá feito. Que sirva de lição, pois, tirei um grande aprendizado.
      Continuarei cuidando de mim e dando andamento nas minhas coisas.
      Obrigada pela força companheira!
      Beijos

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  2. ..conconcordo totalmente com a SOl...e se vc for de SP...a clinica onde meu marido ficou é bem mais acessivel, fica em Limeira-SP caso te interesse me manda um email netrak_r@hotmail.com, que eu passo os dados, la é uma clinica somente involuntaria...e segundo o meu marido é a unica involuntaria que ele e os internos aconselhariam outro a ir...e nessa história de superação...veja a mulher deixou o marido pra ele poder encontrar seu caminho e depois voltar...é muito dificil pras esposas tomarem essa atitude, mais por vezes é a unica e a melhor que vc pode fazer por ele e por vc...acredite sempre que ele irá conseguir...só não sabemos como e nem em quanto tempo (sem expectativas...rs..) mais com muita esperança...o que os olhos não veem o coração não sente...vc pode até sentir a saudade, a falta no começo...mais depois a dor ameniza...sua vida continua...e só vai restar lembranças...e quem sabe...em um futuro todos possam ser felizes...nunca se esqueça do livre arbitrio...infelizmente as pessoas escolhem o que querem pra vida delas...só nos resta amar e respeitar....e se necessário intervir (com uma involuntaria) quando o caso pedir...

    Fique com Deus...que vc receba meu abraço (......--.......)

    bjinhuuuu

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    1. Oi Kel,
      Vou seguir em frente, praticar o deligamento...As coisas realmente não acontecerão no meu tempo. E quanto a involuntaria, não vou mexer com isso não, pois, já te falei do trauma que carrego por conta disso, forçar ele a se internar. Acho melhor deixar para os pais dele, eles já voltaram de viagem e agora fico mais tranquila em soltá-lo.
      Beijos, obrigada pelo apoio

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  3. Nossa, eu imagino o quanto deve estar sendo difícil pra você, amiga! Mas tenha certeza de que esperar o tempo de Deus é a melhor escolha! Confie nele e cuide de você, pois infelizmente não está na suas mãos o início da recuperação do seu marido.
    Sei bem o quanto é doloroso ver eles se acabando quando estão na ativa e sei também que mais doloroso ainda é ver que não podemos fazer nada para ajudá-lo!
    Saiba que você não está sozinha, a sua dor é um pouco minha e de todas nós do blog! Estamos juntas!!
    Siga orando e buscando a SUA recuperação e o seu equilíbrio!
    Deus é por ti, por seu esposo e por todos os seus filhos!
    Tenha esperanças sim, pois tudo pode ser diferente, basta só QUERER!!
    Tudo isso vai passar, basta ter fé!!
    Feliz 24 horas!!
    Beijão

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    1. Oi amiguinha, é verdade. Aos poucos tô aprendendo a soltar e deixar tudo acontecer no tempo certo.
      É muito dolorido tudo isso, mas, mais dolorido que isso é me permitir viver uma vida dessas. Como a Kel falou ali em cima, a vida é feita de escolhas, ou seja, eu faço a minha escolha e aceito a dele, por pior que ela seja, afinal, isso eu não posso mudar e isso é o mais difícil para mim. Mas tenho fé de que irei conseguir.
      Beijos, fique em paz

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  4. Oie, acho que esse já é o limite né? caraca não faz mais isso contigo não, ir em biqueira e se permitir ouvir as besteiras que ele diz quando está na ativa, o Pr. tem razão, você precisa ser firme, não pode ser facilitadora pra ele, está cômodo da forma que tá e ele precisa de um incentivo pra buscar ajuda e esse incentivo e não tendo mais a vida que costumava ter...
    Que o PS lhe cubra de serenidade, busque o seu equilíbrio!
    Beijos

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    1. Então Giu...na verdade o limite já foi ultrapassado faz tempo, mas, eu ainda me permiti estar em uma situação dessas. Não posso aceitar isso, de jeito nenhum. A minha doença também é traiçoeira e me pegou direitinho, pois, em algum momento eu achei que se eu fosse lá com ele, iria impedi-lo de se drogar. Olha só o sentimento de querer ser Deus...rsrs...
      Preciso sim, encontrar o meu equilibrio que fará com que identifique essas roubadas antes de entrar.
      Um beijo

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  5. Prezada companheira, saudações!
    Compartilho de seus sentimentos e sei o quanto é trágica toda essa história.
    Mas olha....tenhas Fé de que bons momentos virão.
    Só quero aqui te dizer uma coisa, companheira. Evite ir nesses lugares com ele, ou mesmo a procura dele. Você não tem noção do risco que tas se submetendo ao ir nestes locais. Sinceramente, não tens noção do perigo que corres. Não só pela questão da marginalidade e violência às quais se expõe ao ir nestes locais, mas também pela questão legal, ou seja, foges tanto aos princípios da Lei, por estares participando (por conivência) de atos ilícitos, neste caso, tráfico de drogas e, até que se prove ao contrário, numa batida policial, podes ir junto; bem como foges aos princípios do tratamento/recuperação de dependentes químicos, pois atos como estes são totalmente contrários às recomendações para quem quer realmente ajudar os dependentes a se recuperarem.
    Então, fica a dica, amiga!
    Tenhas bons momentos e acredite que o mais lhe será revelado.
    Abração e TAMUJUNTU.

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